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15.1.07

HUGO CHÁVEZ LANÇA O “HISTRIONISMO NUM SÓ PAÍS” (jan/2007)

Hegel disse em algum lugar que todos os grandes feitos e personagens da história universal acontecem, como diríamos, duas vezes. Mas esqueceu-se de acrescentar: uma vez como tragédia e a outra como farsa.” Esta frase célebre de Karl Marx, em O 18 Brumário de Luís Bonaparte, foi a primeira lembrança que me ocorreu quando li a arenga pronunciada por Hugo Chávez ao iniciar o terceiro dos infindáveis mandatos que pretende acumular.

Então, depois da tragédia soviética da tentativa de construção do “socialismo num só país”, teremos agora a farsa latino-americana do “histrionismo num só país”. Tanto que o juramento proferido pelo presidente venezuelano Chávez na cerimônia de posse caberia melhor na boca do humorista mexicano Chaves:

“Juro ante esta maravilhosa Constituição, juro ante os senhores, juro por Deus, juro pelo Deus de meus país, juro pelos meus filhos, juro por minha honra, juro por minha vida, juro pelos mártires, juro pelos libertadores, juro por meu povo e juro por minha pátria que não darei descanso a meu braço nem repouso à minha alma ao entregar meus dias, minhas noites e minha vida inteira na construção do socialismo venezuelano.

“Juro por Cristo, o maior socialista da história, juro pelas dores, amores e esperanças, que farei cumprir e que cumprirei com os mandatos supremos desta maravilhosa Constituição, com os mandatos supremos do povo venezuelano, ainda que à custa de minha própria vida e de minha própria tranqüilidade.”

Deus, Cristo, os filhos de Chávez, os mártires, os libertadores, o povo e a pátria que se cuidem, pois o valor das juras do bufônico aspirante a ditador pode ser aferido por sua fidelidade à “maravilhosa” Constituição: a nova Carta que ele fez aprovar em 2000 já não serve a seus propósitos e ele determinou ao Congresso uma ampla reforma constitucional, incluindo a aprovação da nova Lei Habilitadora, que lhe permitirá governar por decretos.

Curiosamente, poucos parecem notar os pontos de contato entre o militar venezuelano que liderou uma fracassada tentativa de golpe em 1992 e os militares brasileiros que foram bem-sucedidos na quartelada de 1964.

Os milicos daqui também eram estatizantes e governavam por decretos (os famigerados atos institucionais). E igualmente se outorgaram, na prática, a permanência no poder por quanto tempo quisessem, com a única diferença de que esse privilégio era conferido aos comandantes das Forças Armadas em regime de revezamento, e não a um deles em particular. O direito à “reeleição ilimitada”, que Chávez certamente arrancará da Assembléia Nacional, é um retrocesso ainda maior: a volta ao caudilhismo.

Inevitavelmente, a bandeira retórica de “pátria, socialismo ou morte” seduzirá alguns representantes da desnorteada esquerda latino-americana. Espero que bem poucos. Por mais exasperante que seja assistirmos dia após dia às demonstrações de poderio e arrogância do capitalismo globalizado, não podemos aderir ao primeiro tiranete que pareça confrontar o 1º Mundo e distribua algumas migalhas ao povo sofrido.

Se as trágicas experiências políticas do século passado nos ensinaram algo, foi que as tentativas de construção do socialismo em países isolados ou são anuladas pela força econômica e/ou militar dos inimigos, ou viram ditaduras as mais retrógradas, ou se tornam uma forma qualquer de capitalismo de estado.

A tarefa dos verdadeiros revolucionários continua sendo a de emancipar as massas trabalhadoras e torná-las o sujeito da História. E não a de tangê-las, como rebanho, ao paraíso desenhado na mente de um guia supremo.

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