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14.1.07

LÊNIN E A RESSACA ELEITORAL (nov/2006)

O período pós-eleitoral costuma ser tedioso e previsível. O atual não foge à regra. De um lado, o anúncio dos aumentos de tarifas e preços que os governos federal, estaduais e municipais haviam represado para evitar danos a seus candidatos – o que, claro, é também uma forma de estelionato eleitoral. Mas, quem liga para isso no Brasil?

De outro, a encarniçada disputa por cargos e posições nos ministérios, secretariados, órgãos públicos e empresas estatais. Alianças políticas são despudoradamente costuradas em termos do naco de poder que caberá a cada partido. Bandeiras, plataformas, propostas para recolocar o País na trilha do crescimento econômico? Isso era só oratória para caçar votos. Dá vontade de vomitar.

As investigações de escândalos e punição dos culpados também perdem subitamente qualquer interesse. Corruptores e corruptos que conseguiram sobreviver até a ressaca das eleições, agora são efusivamente inocentados por seus pares. Bons cristãos, estes acreditam que só pode atirar a primeira pedra quem nunca pecou. E, como sabemos, certos Poderes no Brasil são como os botecos de malandros: basta alguém gritar “Polícia!” para todos saírem correndo...

Last but not least, a imprensa descobre insuspeitadas virtudes nos governantes que antes atacava. Quem vai empunhar a caneta que libera verbas por mais quatro anos merece todos os afagos. Assis Chateaubriand fez escola.

Nesse quadro desolador, pelo menos a “Folha de S. Paulo” mantém a compostura. Em dois dias seguidos desta última semana de novembro destacou assuntos indigestos para o Governo Lula nas matérias-de-capa, ajudando os leitores com espírito crítico a entenderem o que se passa no Brasil de hoje.

Na 4ª feira, 29, revelou que a empresa Gamecorp, da qual é sócio um dos filhos do presidente da República, recebe parte das verbas dos anúncios que o governo federal veicula na Play TV, antigo canal 21. No mínimo, é um caminho meio tortuoso para papai dar mesada ao filhinho...

E, na 5ª feira, 30, a Folha mancheteou que os bancos foram os principais financiadores da campanha de reeleição de Lula, com doações que somam R$ 10,5 milhões. O porquê dessa generosidade foi sugerido logo no 3º parágrafo: “Os bancos, como o próprio Lula disse em discurso recente no qual citava os juros altos, nunca ganharam tanto. No ano passado, lucraram R$ 28,3 bilhões, recorde histórico – e só no primeiro semestre deste ano, R$ 22,2 bilhões (43% a mais do que em 2005)”.

Um livro que saiu de moda mas continua bem atual é “Imperialismo, Fase Superior do Capitalismo”, de Lênin, um verdadeiro libelo contra o parasitismo do sistema financeiro e o papel dominante que ele passou a exercer na economia mundial.

Vide, p. ex., este trecho: “O capital financeiro, concentrado em muito poucas mãos e gozando do monopólio efetivo, obtém um lucro enorme, que aumenta sem cessar com a constituição de sociedades, emissão de valores, empréstimos do Estado, etc., consolidando a dominação da oligarquia financeira e impondo a toda a sociedade um tributo em proveito dos monopolistas”.
O que são as taxas astronômicas de juros praticadas em nosso país, se não um tributo imposto a toda a sociedade brasileira em proveito dos monopolistas?

Lênin também foi profético ao escrever em 1916 que “o monopólio [do sistema financeiro], uma vez que foi constituído e controla milhares de milhões, penetra de maneira absolutamente inevitável em todos os aspectos da vida social, independentemente do regime político e de qualquer outra particularidade”.

Pois não é que penetrou até na política econômica do PT, um partido que chegou ao poder com a promessa de dar um basta à sangria do povo brasileiro por parte de banqueiros e rentistas?!

Por essas e outras é que a retórica das campanhas eleitorais, parafraseando Shakespeare, cada vez mais soa para nós como histórias contadas por idiotas, cheias de som e fúria, mas que nada significam...

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