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11.6.08

1968-2008: DA PRIMAVERA FLORIDA AO INVERNO DA DESESPERANÇA

A ditadura militar de 1964/85 intimidou reitores, diretores, alunos e professores, criando um ambiente irrespirável nas escolas.

Primeiro foram os expurgos, a caça às bruxas.

Depois que a poeira baixou, veio a fase da paranóia: quem estava em instituições ou cursos tidos como de esquerda, sabia ser vigiado o tempo todo, por espiões infiltrados nas salas-de-aula. Todo cuidado era pouco.

No entanto, até por falta de capacidade intelectual -- imaginem só, o coronel Jarbas Passarinho chegou a ser ministro da EDUCAÇÃO!!! --, os governos militares não conseguiram implantar a filosofia educacional fascistóide que seria condizente com sua visão de mundo. Causaram mais males no varejo que no atacado.

Pior mesmo foi a mercantilização do ensino que veio em seguida, com a imersão total do Brasil no capitalismo globalizado. Deixaram de existir estudantes, no sentido real do termo. Foram substituídos por consumidores ávidos por adquirir diplomas e outras certificações, com o único objetivo de agregar valor a seu currículo profissional.

Nem mesmo a ditadura conseguiu suprimir a tradicional missão da educação, de capacitar os cidadãos para refletirem sobre o mundo em que vivem. A sociedade de consumo logrou este feito.

Agora, as escolas formam apertadores de parafusos, com uma formação especializada que lhes permite executar mal e mal suas tarefas numa determinada profissão -- e mais nada. Que terra arrasada!

Quando cursei a Escola de Comunicações e Artes da USP, na década de 1970, os dois primeiros anos eram de formação geral, de forma que extraíamos ensinamentos riquíssimos da sinergia com os colegas de outras vocações (jornalismo x música, p. ex.). Esse respiradouro foi fechado, com a especialização agora sendo imposta desde o primeiro dia.

Disciplinas fundamentais para adquirirmos um conhecimento mais crítico e globalizante foram praticamente banidas dos currículos -- começando pela filosofia, que nos permite estabelecer conexões entre os várias abordagens da realidade, habituando-nos a pensar o todo, as partes e as interações entre ambos.

E que dizer do latim, vital para a compreensão de como os idiomas evoluíram e se diferenciaram a partir de uma base comum?! Como é triste ver brasileiros macaquearem sofregamente o falar estrangeiro e não mostrarem o menor interesse na jornada evolutiva que está por trás dele!

Nossa máxima culpa -- É terrível o sentimento de culpa que minha geração carrega, por haver se deixado dizimar na luta armada, ficando praticamente fora de cena quando a sociedade brasileira se reconfigurava ao longo da década de 1970 -- para pior, infinitamente pior.

Então, os que de gênios tinham muito pouco (mas possuíam ganância e oportunismo em excesso), puderam concretizar sem maior resistência seu objetivo de substituir qualificação por memorização mesmerizada, franqueando as universidades a uma legião de zumbis do sistema.

Mas, nem tudo está perdido. Emblematicamente, desde o ano passado o movimento estudantil vem dando sinais de vida e ensejando esperanças de que o retrocesso, afinal, seja detido e voltemos a caminhar para a frente. Exatamente como em 1967, quando as setembradas foram a primeira reação marcante à imensa prostração que se abateu sobre os idealistas após o êxito da quartelada.

Ainda há tempo para 2008 seguir a trilha de 1968. E não foi pouco já se ter conseguido derrubar um reitor que, imbuído da imoralidade do "enriquecei!" capitalista, emasculou o templo do saber.

Quando um terremoto destruiu a infra-estrutura com que o Chile contava para sediar o Mundial de Futebol de 1962, um grande dirigente esportivo andino liderou o esforço para reerguer-se tudo em tempo recorde, tendo proferido uma frase célebre: "porque nada tenemos, lo haremos todo".

Em matéria de educação, é mais ou menos essa a situação. Nada mais temos, então precisamos construir tudo de novo... com 1968 como referencial.

Um comentário:

Anônimo disse...

Fiz meu curso primário na escola à sombra da ditadura militar, na década de 70, como foi difícil: Moral e Cívica, Duque de Caxias, D. Pedro I e a independência do Brasil, essses "heróis" ou atos heróicos não faziam minha cabeça, mas de tanto me martelarem isso acabei decorando e na hora da arguição tirava nota 10! Já no ginásio acompanhei todo processo de transformação do ensino, saíamos do regime de exceção e íamos para o regime "democratico"! Por problemas pessoais ou por malandragem passei grande parte da minha vida na escola, foi lucro! E por isso tenho base suficiente para dizer que ela melhorou muito, ficou mais "democrática", já não ficava mais de castigo sem motivo, já não mais era ignorado nos bancos do fundo, contudo tudo tem um preço, o rendimento escolar ficou deficiente, os professores com seus novos metódos de ensino, e o governo com suas metas de IDH, não foram sensíveis para perceberem que as pessoas são diferentes, tem ritmos diferentes, daí o grande fracasso da escola plural! A universidade sempre foi um sonho, e continua sendo, mas, sem muita base para o esquema de seleção das universidades públicas, com suas provas futuristas e voltadas para a classe burguêsa, para a indústria do ensino, no qual quem faz o cursinho tal, ou a escola particular tal, consegui decifrar o enigma, ou seja ser aprovado, e o pouco interesse do governo em democratizar o ensino superior de qualidade e gratuito, ao contrário sucateiam a universidade pública, apela-se para as faculdades privadas, para as PUCS da vida, (o trocadilho é verdadeiro)verdadeiras fábricas de diplomas que a cada dia colocam um robôs para linha de produção! Eu já apertei parafusos em uma fábrica de montagem, mas nunca pensei como um apertador de parafusos, enquanto a professora má do primário ditava o ditado para os infelizes alunos, lá estava eu de castigo na biblioteca a descobrir novos horizontes!

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