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6.10.08

2008: ELEIÇÕES SEM ESPERANÇAS

Houve eleições municipais neste domingo. Sabemos disso porque fomos obrigados a ir votar, ficamos sem o futebol dominical e não pudemos tomar umas e outras nos botecos.

Mas, faltava algo nas ruas: esperança. Ninguém dava mostras de acreditar que algo mudaria, fosse quem fosse eleito.

Menos, é claro, os feios, sujos e malvados que disputaram vagas na Câmara Municipal, movidos quase todos por ambições mesquinhas. Estes se atiraram à luta com a sofreguidão de quem vê uma chance única de subir na vida ou (os que buscavam a reeleição) manter-se num patamar muito acima do facultado por seus reais talentos.

O desfile dessas figuras grotescas no horário eleitoral gratuito parecia show de aberrações em mafuás da periferia. Pouquíssimos sugeriam a mais remota possibilidade de servirem ao povo, já que saltava aos olhos sua escassa competência e a escassez ainda maior de caráter. Mal conseguiam dissimular que queriam mesmo é servir-se do povo, dos cofres públicos e das inesgotáveis benesses do poder.

A principal conclusão a tirar-se dessas eleições já se sabia na véspera: a fisiologia impera, não existindo mais nenhum grande partido movido por ideologia. O PT, última tentativa nessa direção, hoje não vê pecado nenhum em coligar-se com o PPS em 20,3% dos municípios brasileiros, com o PSDB em 19,7% e com o DEM em 17,2%.

Se associar-se aos dois primeiros já embaça as distinções que deveria haver entre situação e oposição, as alianças com o DEM constituíram verdadeira ignomínia: o PT, que nasceu da resistência à ditadura de 1964/85, irmanando-se ao partido herdeiro da Arena, criada pelos militares para dar aparência de legalidade ao jugo da força bruta.

De resto, ficou comprovado que o patrimônio político de Lula é pessoal e intransferível. Sua popularidade sobe aos píncaros, mas não se transmite ao PT e seus aliados, que tiveram desempenho apenas razoável em grandes capitais como São Paulo, Belo Horizonte e Porto Alegre, além de amargarem derrotas sofridas em Curitiba e no Rio de Janeiro (onde o prejuízo foi total, pois perdeu ao lado do pior dos candidatos, depois que uma tentativa espúria de beneficiá-lo terminou em tragédia) .

As freqüentes comparações entre Lula e Getúlio Vargas omitem um dado importante: o segundo inspirava verdadeira devoção nos trabalhadores, tanto que foi capaz de eleger até um poste (Eurico Gaspar Dutra), quando impedido de disputar a eleição presidencial.

Já Marta Suplicy, peça-chave no tabuleiro de Lula, ficou exatamente no seu índice habitual de trinta e pouco por cento, apesar de todo apoio presidencial.

Pior: a arrancada de Gilberto Kassab em setembro indica que, quando o eleitorado paulistano passou a interessar-se pelo pleito, inclinou-se na direção do atual prefeito.

Será dificílimo, quase impossível, reverter essa tendência. Não é à toa que dirigentes petistas já aconselham Lula a evitar um comprometimento excessivo com a campanha de Marta no 2º turno.

Finalmente, evidenciou-se que está bloqueado o caminho para outro partido repetir a trajetória do PT -- seja porque o otimismo da década de 1980 cedeu lugar ao conformismo atual, seja por conta da decepção causada pelo próprio PT, ao frustrar as esperanças que despertou.

A classe média, capaz de mobilizar-se por ideais, mostra-se amarga e descrente. Por enquanto, o assistencialismo e o clientelismo estão sendo suficientes para garantir apoios que contrabalançam o êxodo dos melhores seres humanos.

Mas, já sem apelo para corações e mentes, Lula e o PT dependerão do que puderem oferecer para as barrigas. Enquanto proporcionarem melhoras materiais, mesmo que ínfimas, têm chance de perpetuarem-se no poder.

Se a crise cíclica do capitalismo atingir um estágio mais agudo, entretanto, já não haverá como manter essa sustentação, em última análise, comprada.

Aí vai lhes fazer muita falta a ardorosa militância que sustentava o partido nos tempos difíceis e foi trocada pelos interesseiros sempre em busca de partidos que os sustentem.

2 comentários:

Fernando Claro Dias disse...

Caro Celso,

tudo bem?

Gostaria de deixar um comentário mas algumas dúvidas me assaltam: qual o verdadeiro nome da candidata Marta? É Favres ou Suplicy?

Como Marta Favres chegaria ao segundo turno?
Pegar carona no sobrenome Suplicy não lhe aumenta as chances contra Kassab?
Não foi esta mesma Marta, Favres ou Suplcy, a que na condição de ministra do Turismo quis que relaxássemos e gozássmos nas fila dos aeroportos?
Vale a prena perder tempo com estas questões?
Considero-me cansado em continuar a perder meu tempo com perguntas estéreis acerca de um assunto desgastante.
Jamais precisei de um governador ou prefeito ou qualquer outro políticos para honrar meus débitos. Não preciso destes parasitas políticos profissionais pra PN !
Saudações,
Fernando, OCLARO.blogspot.combr

celsolungaretti disse...

Fernando,

considero que faltou ética à Marta quando, em campanha para prefeita (se bem me lembro, no ano 2000), deixou de comunicar ao eleitorado que havia trocado o Eduardo pelo franco-argentino Favre.

Com certeza, muitos eleitores que não votariam numa sexóloga de TV, votaram na esposa do Eduardo Suplicy -- só que ela já deixara de sê-lo.

E continuou faltando ética nos anos seguintes, pois, mesmo após a separação deixar de ser escondida dos eleitores e da imprensa, ela optou por continuar utilizando o sobrenome Suplicy.

Como se fosse uma marca que já conquistara seu espaço no mercado, daí a inconveniência de mudá-la e ter o trabalho de tornar conhecida e aceita uma nova marca.

É bizarro que tal pessoa lance insinuações sobre o comportamento dos adversários na esfera privada. Macaco, olha o teu rabo!

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