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29.4.13

TRIBUTO A UM GÊNIO DA CIÊNCIA E DA MPB


Jô Soares já foi grande humorista, mas, como apresentador de  talk show, não chega nem aos pés do  Silveira Sampaio de meio século atrás. 

Não sei se isto advém de falta de competência ou do Jô se direcionar para um público intelectualmente muito inferior ao que SS atingia; ou seja, se ele é superficial por opção ou para satisfazer aos videotas. 

Mas, não suporto que jamais lhe ocorra a pergunta mais interessante e inteligente que teria para fazer ao entrevistado. Deixa-nos com aquela sensação  de que faltou tempero na comida...

Foi no SS Show que fiquei conhecendo o grande Paulo Vanzolini (1924-2013), mais uma perda doída de abril, mês que invariavelmente me evoca o pior  dia da mentira  da nossa História, quando perdemos a liberdade...

A entrevista ocorreu lá pelos meados dos anos 60 e foi ótima, como sempre. 

Fiquei surpreso ao saber que um eminente homem de ciências era autor de verdadeiras pérolas da MPB. Eu gostava, principalmente, de "Volta por cima", que chegara a tocar muito nas rádios (logo adiante, ela se completaria às mil maravilhas com a obra-prima de Glauber Rocha, O dragão da maldade contra o santo guerreiro, destacando um dos trechos culminantes do filme). 

Foi também adiante que fiquei conhecendo e gostando de outros clássicos de Vanzolini, como "Ronda", "Chorava no meio da rua", "Napoleão" e "Praça Clóvis". Além, claro, do "Samba erudito", que poderia até servir-lhe como cartão de visita musical: nenhum erudito conseguiu, jamais, soar tão espontâneo como sambista!

Mas, voltemos  àquele longínquo SS Show. Lá pelas tantas, Vanzolini contou a história da "Capoeira do Arnaldo". Ele costumava terminar suas noites na boate Jogral, do amigo e também compositor Luís Carlos Paraná. E foi desafiado por outro amigo, chamado Arnaldo, a criar uma música com utilização perfeita de jargão regional. De estalo, Vanzolini compôs sua inspiradíssima capoeira. 

Foi interpretada no programa do Silveira Sampaio por Luís Carlos Paraná, que estava acompanhando Vanzolini. Este, entretanto, ressalvou que, como a fizera para presentear  um amigo, não a disponibilizaria para lançamento em disco. Amei a música e detestei saber que nunca mais a escutaria de novo. 

Lá por 1973, contudo, ao passar por um  sebo  do centro da cidade, percebi, maravilhado, que a música tocada na vitrola era a "Capoeira do Arnaldo"! 

Ignorava que, certamente atendendo aos apelos gerais, Vanzolini acabara permitindo sua gravação. Comprei e toquei até o compacto ficar riscado.

De tanto ouvir, decorei a (longa) letra inteirinha. E em sentido figurado, não literal, sempre encarei a última estrofe  como um resumo da minha trajetória:
"Eu sai da minha terra
Por ter sina viageira
Cum dois meses de viagem
Eu vivi uma vida inteira
Sai bravo, cheguei manso
Macho da mesma maneira
Estrada foi boa mestra
Me deu lição verdadeira
Coragem num 'tá no grito
Nem riqueza na algibeira
E os pecado de domingo
Quem paga é segunda-feira" 
"Na boca da noite", parceria com Toquinho, é outra canção de beleza cristalina, que me tocou profundamente. Tinha tudo a ver com aquela época em que nossos amores eram necessariamente fugazes, mesmo porque não sabíamos que horrores poderiam nos atingir nas próximas horas. Embora não fosse esta a intenção de Vanzolini, foi o que então significou para mim esta pungente estrofe: 
"Gente da nossa estampa 
não pede juras nem faz, 
Ama e passa e não demonstra 
sua guerra, sua paz 
Quando o galo me chamou, 
eu parti sem olhar pra trás 
Porque, morena, eu sabia, 
se olhasse, não conseguia 
Sair dali nunca mais" 
Por último, quero deixar um registro sobre a importância de Vanzolini como zoólogo. Mas, como não é nem nunca será minha praia, pegarei uma carona num excelente artigo de Marcelo Leite, editor de Opinião da Folha de S. Paulo:
"A especialidade de Paulo Emílio Vanzolini, na sua identidade menos conhecida de pesquisador, eram cobras e lagartos. O afiado zoólogo foi um dos maiores herpetologistas do Brasil e teve participação direta em momentos cruciais da ciência nacional.
A pesquisa biológica, como um lagarto, caminha pela natureza impulsionada sobre dois pés por vez: teóricos e sistematizadores, de um lado, naturalistas e taxonomistas, de outro. Vanzolini serpenteava com destreza entre os dois campos, aliando como poucos as faculdades de observador detalhista e de generalizador arguto.
Na descrição de espécies de répteis e seus hábitos ecológicos, avançou sobre terreno quase virgem, aplicando com afinco a formação obtida na Faculdade de Medicina da USP e no doutorado na Universidade Harvard (EUA). Foi fundamental para o Museu de Zoologia da USP, que amou e dirigiu por muitos anos.
(...) Numa de suas incursões pelo rio Paraná, compôs com Antônio Xandó uma estrofe complementar para "Cuitelinho" (espécie de beija-flor), entoada por um pescador. Estão ali talvez os versos mais formosos de uma das mais bonitas melodias do cancioneiro nacional: "A tua saudade corta como aço de navalha / O coração fica aflito, bate uma, a outra falha / E os olhos se enchem d'água, que até a vista se atrapalha"".


15.4.13

O DESABAFO DE UM INJUSTIÇADO: EU

Estive alguns dias fora do ar, suportando os transtornos de uma mudança de residência indesejável. 

Jamais perdoarei os responsáveis pelas aflições a que eu não deveria estar mais sujeito aos 62 anos, depois de uma vida inteira de lutas.

Vamos aos fatos.

Em outubro de 2001, com a companheira grávida e péssimas perspectivas financeiras pela frente, ingressei no programa de anistia federal, depois de resistir durante muito tempo à idéia de pleitear compensação pelo que fizera em nome de meus mais sagrados ideais.  Concluí, no entanto, que eu tinha o direito de sofrer por minhas convicções, mas não de, em nome delas, impor sofrimento aos meus entes queridos.

Tive de lutar muito e superar antigos preconceitos, inclusive esclarecendo qual havia sido o meu verdadeiro papel histórico, até começar a receber uma pensão vitalícia de vítima da ditadura com lesão permanente adquirida nas câmaras de tortura militares.

Além do pagamento mensal iniciado em janeiro/2006, a portaria do ministro da Justiça estabeleceu que eu fazia jus ao mesmo valor multiplicado pelo número de meses transcorridos entre a violação extrema dos meus direitos humanos e o primeiro ressarcimento por parte da União.

Trata-se da chamada indenização retroativa, cujo pagamento as normas da Comissão de Anistia estabelecem que seja efetuado num prazo de 60 dias.

O governo simplesmente ignorou tal obrigação, no meu caso e nos de todos os outros beneficiados, ao longo de 2006. Então, necessitando dessa quantia para pagar as dívidas acumuladas em dois anos de desemprego, reconstruir minha vida e arcar com as despesas acarretadas pelos muitos dependentes que possuo, resolvi buscar meu direito na Justiça.

Mal eu acabava de dar entrada no mandado de segurança nº 0022638-94-2007.3.00.0000, a União finalmente anunciou um plano para pagamento dos retroativos, só que em parcelas mensais a perderem-se de vista (teoricamente, o débito deverá ser zerado em 2014, mas quem garante que não vá haver nova prorrogação?).

Não querendo, por motivos políticos, alterar as normas do programa, o governo convidou os anistiados a abdicarem  voluntariamente  do seu direito ao recebimento total do retroativo em dois meses.

Quem, contudo, não se vergou à vontade do rei, passou a ser retaliado com o retardamento artificial dos trâmites, o recurso às mais ridículas manobras protelatórias por parte da Advocacia Geral da União e, talvez, articulações de bastidores (impossíveis de serem provadas, mas o primeiro ministro incumbido do meu processo no STJ foi o Luiz Fux, cuja rapidez em conceder liminar, seguida de um incompreensível recuo, me causaram estranheza, maior ainda depois de tomar conhecimento das acusações que o Zé Dirceu lhe faz...). 

O certo é que o julgamento do mérito da questão só se deu quatro anos depois que eu ingressei com a ação! E venci por 9x0, em fevereiro/2011.

Mesmo assim, novas filigranas jurídicas estão sendo utilizadas para retardar indefinidamente o cumprimento da decisão unânime e incontestável. A  vendetta  dos que têm muito poder, mas nenhuma razão, atinge duramente a mim e ricocheteia sobre meus dependentes.

Acabo de me mudar compulsoriamente para outro apartamento alugado, embora há muito devesse estar de posse dos recursos que me permitiriam adquirir minha morada definitiva.

E tive de fazer a mudança a toque de caixa, sob ameaça de iminente mandado de despejo, pois não pude negociar com o proprietário o reajuste por ele pretendido, sob uma Lei do Inquilinato que coloca o  direito  à ganância acima do Estatuto do Idoso e do Estatuto da Criança e do Adolescente.

Tudo é sempre muito difícil para mim, mas morrerei dando o exemplo de que devemos resistir com todas as nossas forças ao arbítrio (assumido ou maquilado), sem trocarmos as convicções por conveniências.

Sou um anacronismo na geléia geral brasileira: um homem de princípios. E muito padeço como consequência disto.

Atualmente, p. ex., esforço-me ao máximo para obter uma solução para minhas agruras sem fazer denúncias mais categóricas pela imprensa nem recorrer à rede mundial de defesa dos direitos humanos. Há muito poderia ter ido nessas direções, mas venho até agora evitando fornecer trunfos para os reacionários desqualificarem um programa digno, justo e necessário (apesar das distorções na sua implementação).

Há, no entanto, um limite para as atribulações que eu aceitarei impor aos meus dependentes. Repito: eles não merecem ser retaliados juntos comigo.

10.4.13

COMENTÁRIO SOBRE O NOCAUTE QUE IVO HERZOG APLICOU NUM FILHOTE DA DITADURA

Ivo Herzog e Romário falem em nome da dignidade nacional, ao alertarem...
A  Folha de S. Paulo publica nesta 4ª feira o debate entre Ivo Herzog, filho do saudoso Vlado, e José Maria Marin, o mau-caráter que secundou um ataque feito na Assembléia Legislativa contra a "infiltração comunista" na TV Cultura. Os dois artigos podem ser acessados, na íntegra, aqui

Marin está certo ao dizer que a repressão ditatorial não precisava de tais estímulos para agir como agia.

É o que sempre afirmei: a operação contra os inofensivos e manjadíssimos esquerdistas da emissora estatal de São Paulo não passou de uma PROVOCAÇÃO

Em 1975, quando a paz dos cemitérios já fora imposta ao País, o ditador Geisel pretendia desativar o DOI-Codi que, além de haver-se tornado desnecessário, era um dos responsáveis pela péssima imagem do Brasil no exterior. Seus integrantes, no entanto, tudo faziam para não perderem as benesses de que desfrutavam --principalmente a divisão entre si do que apreendiam com os militantes e as gratificações recebidas de empresários canalhas.

...para o pesadelo de sermos representados
no Mundial por um filhote da ditadura...
Então, prendendo Vladimir Herzog e outros jornalistas com os quais até então não se haviam importado, os torturadores tencionavam produzir um dramalhão mexicano sobre o  imenso risco  que os paulistas estariam correndo ao ficarem expostos às  deletérias transmissões subversivas  da TV Cultura e sua  enorme  audiência... de, em média, 1%!

De quebra, acreditavam que, sendo o Vlado muito querido na USP, o movimento estudantil sairia às ruas para protestar, dando-lhes um argumento a mais para alegarem que seu infame trabalho ainda era imprescindível para a ditadura.

Quando o tiro saiu pela culatra e a morte de Herzog (um óbvio  acidente de trabalho: todos que éramos torturados com descargas elétricas estávamos sujeitos a enfartar, caso tivéssemos o menor problema cardíaco) provocou imensa indignação, um que apanhou as sobras foi o jornalista Cláudio Marques: no igualmente desimportante Diário Comércio & Indústria, ele fizera campanha contra "os comunistas" da TV Cultura. Execrado pelos colegas, desceu a ladeira tão rapidamente quanto subira.

O   Cláudio Marques 2  é José Maria Marin, em função do aparte que deu em apoio à diátribe anticomunista de outro puxa-saco dos militares, o deputado Wadih Helu; e também por haver, em discurso próprio, rasgado seda para uma das figuras mais infames dos  anos de chumbo, o delegado Sérgio Fleury, tocaieiro do Marighella.

Eu não considero Marques e Marin RESPONSÁVEIS FACTUAIS pelo assassinato do Vlado; mas, RESPONSÁVEIS MORAIS, INDISCUTIVELMENTE, AMBOS SÃO.

...que coonestava e aplaudia horrores
como o assassinato de Marighella.
Seria o mesmo que um jornalista e um parlamentar do III Reich virem a público pedir medidas contra os judeus. O fato de que Hitler já estava determinado a exterminá-los não eximiria tais personagens de terem se portado da forma mais abjeta possível.

Marin argui a própria insignificância como atenuante: "É sabido por todos que atuavam naqueles tempos que os deputados não tinham o menor poder sobre os órgãos de Estado".

Então, se não tinha poder real nenhum, por que ele se empenhou tanto em ser visto... como um vil dedoduro?! Ao invés de uma defesa, esta é uma agravante. Diz muito sobre o caráter dos cúmplices menores da ditadura, aqueles que surfavam na onda do totalitarismo apenas para colherem benefícios pessoais, indiferentes aos horrores que coonestavam.

Está certíssimo o Ivo Herzog: alguém com tal pequenez moral não pode, jamais, representar-nos no evento máximo do futebol mundial.

Portanto, subscrevo o parágrafo final do seu artigo e assino embaixo:
"Pensar em recompensar um desses personagens com a glória de ser o responsável por receber o mundo em nome do povo brasileiro na ocasião da Copa do Mundo é inaceitável. Intolerável. A Copa do Mundo é nossa. Não do Marin".

2.4.13

NÃO PODEMOS SUBESTIMAR O RISCO DE RETROCESSO!

Maior teatrólogo brasileiro das últimas décadas, José Celso Martinez Correa tem também muito faro político, como o atesta o artigo Feliciano é a ponta de lança de um golpe de estado, que disponibilizou no seu blogue (vide aqui).

Meu único reparo é quanto a este trecho:
"Todos que trabalham com a arte ou mesmo com seres humanos e os que se sentem mortais, humanos, estão putos com esta situação na Comissão dos Direitos Humanos que anuncia coisa pior: o Congresso agora vai votar por uma proposta-lei dos evangélicos Fundamentalistas pra derrubar o Estado laico brasileiro".
Refere-se a uma proposta do deputado evangélico João Campos, no sentido de estender às organizações religiosas a prerrogativa de contestar a constitucionalidade de leis no Supremo Tribunal Federal. Atualmente, quem pode propor a chamada Ação Direta de Inconstitucionalidade (Adin) são o presidente da República; as Mesas do Senado, Câmara e Assembleias Legislativas; os governadores; o procurador-geral da República; a OAB; os partidos com representação no Congresso; confederações sindicais e entidades de classe de âmbito nacional.

Evidentemente, entre tantos proponentes possíveis, os pastores ensandecidos sempre encontrarão algum disposto a assumir a paternidade de suas contestações à modernidade, em nome dos valores de dois milênios atrás.


Ou seja, mesmo que se abra esta porta para o passado brigar com o presente e o futuro (o projeto ainda tem de ser aprovado por duas comissões do Congresso e em duas votações no plenário), ruim mesmo seria o precedente, não o efeito concreto. Até porque tais bizarrias acabariam sendo inevitavelmente fulminadas pelo STF.

Quanto ao restante da catalinária do Zé Celso, aplaudo e subscrevo:

"A regressão aos estados fundamentalistas tem sido a causa de inúmeras guerras e de situações estupradoras monstruosas dos direitos humanos em todo Planeta Terra.
Precisamos todos nos movimentar urgentemente (...) para não sermos condenados a desumanidade das ditaduras das religiões fundamentalistas.

Este Infeliz Feliciano é a ponta de lança da ameaça de um golpe de estado tão nefasto quanto o de 1964.

Além dos artistas, nós todos, mortais humanos, que assim se aceitam e que não temos versão única da vida, da 'verdade', nem somos proprietários dela, que amamos a liberdade temos de criar juntos meios para que esta regressão nefasta de aprisionamento da vida aqui no Brasil não aconteça.

É trabalho não somente de artista, mas de todos os humanos que tem amor ao poder de nossa condição humana livre de tutela da boçalidade fundamentalista de uma verdade única".
O ESPAÇO PARA UMA AGREMIAÇÃO TRIPLAMENTE
CONSERVADORA NA POLÍTICA BRASILEIRA

Quanto ao filósofo Vladimir Safatle, cumpre admiravelmente sua missão de dimensionar este novo fenômeno: a emergência de um populismo de extrema-direita encabeçado pelos mercadores do templo e tendo como exército os milhões de coitadezas mesmerizados por sua lavagem cerebral.

Desde a última campanha eleitoral, quando a Igreja Universal quase catapultou Celso Russomanno para o 2º turno em São Paulo, venho alertando para tal perigo. Vide, p. ex., a advertência que lancei neste artigo:
"...os  pa$tore$ eletrônico$, que propagam e tornam cada vez mais rentável o culto ao bezerro de ouro, podem se tornar uma força política de primeira grandeza caso se apossem do governo e passem a gerir o orçamento da principal cidade brasileira.

Lembrem-se: Hitler só foi tão longe porque suas futuras vítimas o subestimaram. Começando pelos socialistas que, desatinadamente, atacaram a democracia alemã pela esquerda enquanto os nazistas o faziam pela direita.  

Contando com um exército de zumbis que atuarão como cabos e tarefeiros eleitorais gratuítos, até onde os exploradores da fé poderão chegar? O céu é o limite.

Mas, para a democracia brasileira, o quadro que se delineia é o de um inferno. Deus nos acuda!"
Recomendando a leitura na íntegra do artigo do Safatle, O primeiro embate (vide aqui), destaco os trechos principais:
"Os embates em torno da presidência da Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara talvez sejam o primeiro capítulo de um novo eixo na política brasileira.

A maneira aguerrida com que o deputado Marco Feliciano e seus correligionários ocupam espaço em uma comissão criada exatamente para nos defender de pessoas como eles mostra a importância que dão para a possibilidade de bloquear os debates a respeito da modernização dos costumes na sociedade brasileira. Pois, tal como seus congêneres norte-americanos, apoiados pelo mesmo círculo de igrejas pentecostais, eles apostam na transformação dos conflitos sobre costumes na pauta política central. Uma aposta assumida como missão.

Durante os últimos anos, o conservadorismo nacional organizou-se politicamente sob a égide do consórcio PSDB-DEM. Havia, no entanto, um problema de base. O eleitor tucano orgânico é alguém conservador na economia, conservador na política, mas que gosta de se ver como liberal nos costumes. Quando o consórcio tentou absorver a pauta do conservadorismo dos costumes (por meio das campanhas de José Serra), a quantidade de curtos-circuitos foi tão grande que o projeto foi abortado. Mesmo lideranças como FHC se mostraram desconfortáveis nesse cenário.

Porém ficava claro, desde então, que havia espaço para uma agremiação triplamente conservadora na política brasileira. Ela teria como alicerce os setores mais reacionários das igrejas, com suas bases populares, podendo se aliar aos interesses do agronegócio, contrariados pelo discurso ecológico das 'elites liberais'. Tal agremiação irá se formar, cedo ou tarde".
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